Gestor do Parque da Prainha fala sobre as polêmicas

Data da publicação: 29/07/2014 – 00:30h

Na última semana os frequentadores da Prainha ficaram assustados: uma grade foi instalada numa pequena parte da estrada que leva à praia, poluindo um dos visuais mais irados de nossa cidade.

O Ricosurf publicou uma matéria sobre a questão e os internautas participaram ativamente com dezenas de comentários, a maioria esmagadora contra as grades.

Além disso, a galera ficou assustada com a possibilidade da instalação de uma guarita na Prainha, impossibilitando a entrada de carros no local.

Para esclarecer todas as dúvidas, o Ricosurf entrou em contato com Abílio Fernandes, Gestor do Parque da Prainha e também Presidente da Federação de Surf do Estado do Rio de Janeiro.

Abílio sempre esteve ligado à questão ambiental de toda a área do Recreio dos Bandeirantes, inclusive sendo um dos criadores do projeto de preservação da restinga. Como morador das proximidades, ele frequenta a Prainha não apenas para trabalhar e surfar, mas também em caminhadas e rolés de bicicleta.

Confira a entrevista:

Carlos Matias – Por que foram instaladas essas grades na estrada que leva a Prainha?

Abílio Fernandes – O gradeamento foi uma solução provisória da Prefeitura, para garantir de fato a segurança dos pedestres isolando um trecho de 200m de uma passarela existente e interditada pela Geo -Rio e Defesa Civil, por oferecer risco de desabamento devido ao estado avançado de corrosão de sua estrutura. Todos nós surfistas perdemos um dos visuais que mais nos dava prazer. Não tinha outra forma de fazer isso?

Qualquer intervenção antrópica ao meio ambiente gera impactos. Isso é incontestável.
O simples fato de acessarmos a Prainha (Unidade de Conservação Integral) com nossos carros estamos impactando o ar puro que existe por lá da mesma forma.

Não concordo que perdemos o visual. A grade é transparente e permite a visibilidade da paisagem.

A solução de caráter emergencial, imediata, provisória e mais segura encontrada pela Prefeitura para proteger as pessoas daquele abismo e daquela calçada tecnicamente condenada, foi o gradeamento sobre a mureta de pedra.

Também preferia a vista sem a grade, é óbvio. Entretanto, diante das circunstâncias, peço às pessoas que dizem ter perdido o visual que lhes dava tanto prazer, que reflitam se não seria muito pior, tivessem o desprazer de perder um amigo despencando por aquele precipício.

Você acredita que as grades fiquem por lá durante quanto tempo?

Acredito que fiquem por lá até que a Prefeitura reconstitua a passarela e a devolva de forma segura aos usuários. De imediato não sei te informar quanto tempo essa obra de engenharia naquela encosta pode demorar.

Ela vai suportar a maresia? De qual material é feita?

Apesar de ser uma intervenção provisória, a tela com malha de 5×10 e fio com diâmetro de 2,5 mm e altura de 1,5m é eletrossoldada, galvanizada e revestida com PVC, oferecendo elevada resistência a corrosão e adequada para regiões litorâneas.

Como são tomadas as decisões para alterações naquela área?

A área está localizada dentro dos limites do Parque Natural Municipal da Prainha. De acordo com o SNUC, Sistema Nacional para Unidades de Conservação, as decisões com relação à utilização das áreas de uma Unidade de conservação devem respeitar o Plano de Manejo – documento técnico que define o Zoneamento dessas Unidades, bem como considerar as opiniões do Conselho Consultivo do Plano.

Você é gestor do Parque, mas também um frequentador assíduo da Prainha há décadas, onde não apenas surfa, mas também anda de bicicleta e pratica corridas. Não como gestor, mas como usuário, o que achou da instalação das grades?

Diante das circunstâncias, desde que não seja definitiva, achei propícia para o momento. Já estava mais do que na hora de interditar de fato aquele abismo, condenado pela Geo-Rio e Defesa Civil.

A solução ideal, em minha opinião como usuário, seria a construção de uma calçada compartilhada para ciclistas e pedestres partindo do início da subida no Canal de Sernambetiba, até a chegada à Prainha.

Seria bem mais seguro, principalmente para incentivar as famílias com suas crianças o uso da bicicleta e também a prática saudável das caminhadas. Com isso teríamos menos carros na rua, menos poluição, menos stress nos finais de semana na Prainha e melhor qualidade de vida para todos.

Um dos grandes medos de quem frequenta a Prainha é a chance de nascerem moradias naquela região. Qual a chance disso acontecer?

Dentro dos limites do PNM da Prainha, descarto completamente essa possibilidade. Nos terrenos particulares, nas áreas de entorno do Parque, desde que sejam respeitadas as normas edilícias que definem o zoneamento da região, isso pode acontecer.

E em relação à instalação das cancelas que vão fechar a praia. O que realmente está sendo estudado e o que pode acontecer? Ela será fechada apenas durante a noite ou durante todo o dia?

A colocação de guaritas para controle de visitantes nos acessos a Prainha e Grumari foi sugerido pelo Conselho Consultivo e consta no Plano de Manejo.

Com relação ao horário, se for necessário, pode ser novamente levado ao Conselho de forma a esclarecer melhor esse ponto.

O que seria o ideal a ser feito nessa questão?

A legitimidade e o êxito das políticas públicas só perduram quando existe a aceitação popular. Sendo assim, se essa questão não ficou bem esclarecida, como já mencionei na resposta anterior, sugiro que deva ser novamente levada ao Conselho Consultivo, que tem como uma de suas funções principais e legitimidade para tal, opinar sobre questões conflitantes.

Explique qual a importância da Prainha ter o selo Bandeira Azul?

O Programa Bandeira Azul para Praias e Marinas é desenvolvido pela Organização Não-Governamental Internacional FEE (Foundation for Environmental Education).

Iniciou-se na França em 1985 e vem sendo implementado em toda a Europa desde 1987 e em países não europeus desde 2001. Atualmente vários países de todo o mundo participam do Programa Bandeira Azul.

O Programa Bandeira Azul é um selo de caráter socioambiental amplamente reconhecido em todo mundo. A bandeira hasteada representa não só um símbolo do programa, como também sinaliza a conformidade da praia com os critérios estabelecidos pelo selo.

Deixe um recado para os frequentadores da Prainha.

Os Gestores dos Parques são o elo entre os usuários e o poder público. Estou à disposição para receber pessoalmente as demandas dos usuários diariamente na Unidade.

Seria bastante saudável e mais produtivo, diante dos problemas que naturalmente surgem no dia a dia e as diferentes interpretações de cada um de nós, seres humanos, a esses problemas que antes de nos posicionarmos, refletíssemos bastante. Temos que ter conhecimento de causa para não sermos injustos. Participe construtivamente com suas ideias e sugestões.

“O mundo é perigoso, não por aqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que veem e deixam o mal ser feito” (Albert Einstein).

Ricosurf / Por Carlos Matias